A Sirigaita é uma associação cultural sem fins lucrativos que nasceu em Dezembro de 2018, na Rua dos Anjos, resgatando o espaço de outra associação que ali estava desde 2014. A Sirigaita representa para os seus mais de 2000 sócios um importante espaço de encontro porque:

Para além de ter a sua própria programação cultural, o seu espaço alberga e possibilita a acção de 8 colectivos diferentes, com forte ligação ao bairro e que lutam pelo direito à habitação e à cidade, pela justiça climática, pelos direitos das mulheres e pessoas não-binárias trabalhadoras do sexo e utilizadoras de drogas, pelos direitos dos imigrantes ou pela soberania alimentar.

A Sirigaita não recebe qualquer apoio institucional. É completamente auto-financiada pelas suas actividades e auto-gerida pelas suas sócias de forma voluntária e sem remuneração.

Como tantas famílias e espaços colectivos, a Sirigaita está em risco de despejo. O senhorio – a empresa Bagoandas Imóveis, proprietária de dezenas de prédios e com mais de 80 alojamentos locais registados em Lisboa – opôs-se à renovação do contrato de arrendamento e pretende que a Sirigaita abandone o espaço até ao fim de Fevereiro.

Pagamos actualmente 450€ de renda por um rés-do-chão de 100 m2, sem janelas, que só no Inverno passado teve 15 inundações, que tivemos de enfrentar sozinhas, perante a indiferença do senhorio. Há quase um ano que procuramos alternativas, mas uma associação como a Sirigaita – que não se rege pela lógica do lucro – não pode pagar as rendas que actualmente se praticam – impostas por um mercado ganancioso.

Já fomos a reuniões com a Junta de Freguesia de Arroios e com a Câmara Municipal de Lisboa, que não nos ofereceram soluções. O poder local não pode lavar as mãos perante o deserto de recreio, cultura e desporto para as classes populares a que a cidade caminha a passos largos.

A Câmara tem um vasto património de imóveis devolutos. Alguns destes espaços deviam ser postos ao serviço das colectividades e associações. Não é inédita a intervenção da Câmara para prevenir o fecho de espaços colectivos: recordamos que em 2021, a Câmara assinou um protocolo de colaboração com a Sociedade de Geografia de Lisboa, em que aceitou a cessão da posição contratual de arrendatário do espaço e que em 2022 fez o mesmo para o Círculo Eça de Queiroz. E também o Largo Residências, que, ao ser despejado da sua sede no Largo do Intendente, teve a possibilidade de transitar para o Quartel de Santa Bárbara e, mais recentemente, para o antigo Hospital Miguel Bombarda.

O reconhecimento do papel das associações sem fins lucrativos, dos clubes e das colectividades na promoção da cultura e interatividade social não pode consumar-se só em promessas vagas ou numa seleção enviesada daqueles que merecem apoio e daqueles que ficam entregues à sua sorte. Tem de se materializar em medidas efectivas que garantam a vida de todas as colectividades actualmente em risco de extinção.

O despejo de uma associação representa a destruição de um centro de gravidade e uma ferida infligida à comunidade que dela depende. Mas o despejo de muitas colectividades representa a morte de uma cidade inteira – num momento em que precisamos de mais associações, de mais cooperação e de mais solidariedade.

O trabalho desenvolvido pela Sirigaita nos seus 5 anos de existência cumpre uma importante função social e o seu despejo deixará um vazio no bairro. A Sirigaita está absolutamente comprometida com as pessoas que dela dependem e não irá entregar as chaves ao senhorio enquanto não tiver uma solução alternativa digna e adequada. A Sirigaita pede à Assembleia Municipal que intervenha com urgência junto da Câmara Municipal para impedir o despejo de mais uma colectividade.

O MOVIMENTO ASSOCIATIVO PRECISA DE ESPAÇO.